terça-feira, 30 de outubro de 2012

PSICANÁLISE



A Psicanálise originou-se na prática clínica do médico e cientista Josef Breuer, devendo-se a Sigmund Freud (1856-1939) a valorização e aperfeiçoamento da técnica e a formulação dos conceitos nos desdobramentos posteriores do método e da doutrina, o que ele fez valendo-se do pensamento de alguns filósofos e de sua própria experiência profissional. A Psicanálise, enquanto teoria, baseia-se num conjunto de conhecimentos sobre o funcionamento da vida psíquica. Como método investigativo, a Psicanálise busca o significado oculto de tudo aquilo que é manifestado por ações, palavras e, até mesmo, produções imaginárias do homem (sonhos, delírios, fantasias, etc). Ela também é bastante útil para a análise e compreensão de determinados fenômenos sociais, como o excesso de individualismo no mundo contemporâneo. 
Josef Breuer e Segmund Freud



Estrutura do aparelho psíquico
Freud apresenta a primeira concepção sobre a organização e funcionamento do aparelho psíquico em 1900. Ele cita a existência de três instâncias psíquicas: inconsciente, pré-consciente e consciência.
Inconsciente: compreende todo o conteúdo que não está presente no campo da consciência. É no inconsciente que fica armazenado tudo aquilo que foi reprimido , excluído da consciência humana. Ele é atemporal, ou seja, não existem noções de passado e presente. O conteúdo presente no inconsciente, em determinado momento, pode ter existido no consciente.
Pré-consciente: é o sistema em que permanecem todos os conteúdos acessíveis à consciência. Parte da memória que pode ser facilmente acessível. O pré-consciente é como uma vasta área de lembranças de que a consciência precisa para desempenhar suas funções.
Consciente: é o sistema que recebe as informações do mundo exterior e interior ao mesmo tempo. Recebe destaque o fenômeno da percepção. Freud se dedicou mais no estudo das outras duas instâncias psíquicas, o inconsciente e o pré-consciente.
 


Freud e a descoberta da sexualidade infantil
Em seus estudos, Freud descobriu que a maior parte dos pensamentos e desejos retidos eram oriundos de conflitos de ordem sexual, principalmente, ligados à infância do indivíduo causados a partir de traumas vividos. Essas descobertas colocaram a sexualidade no centro da vida psíquica do homem e, a partir dessa premissa, questiona-se a existência da sexualidade infantil. A partir disso, Freud postulou as seguintes fases do desenvolvimento sexual:
Fase oral: vai do nascimento da criança até aos 18 meses. Nessa fase a zona de erotização é a boca porque ela é, nos primeiros anos de vida, o canal sensorial mais explorado pela criança.
Fase anal: vai dos 18 meses até 3-4 anos de vida da criança. A zona de erotização deixa de ser a boca e passa a ser o ânus.
Fase fálica: vai de 3-4 a 5-6 anos da criança. Nessa fase a zona de erotização é o órgão sexual. A criança começa a perceber sua sexualidade e faz comparações do seu órgão genital com o do sexo oposto. Também conhecida por fase edípica, o complexo de Édipo é uma lenda grega em que o filho de apaixona pela própria mãe, porque nessa fase a criança transforma a mãe ou o pai em objeto de desejo.
Fase de latência: período em que as atividades sexuais são menores, ou seja, há uma espécie de intervalo na evolução da sexualidade.
Fase genital: é quando o objeto de erotização já não está mais no próprio corpo. O outro passa a ser o novo objeto. Nessa fase a grande quantidade de hormônios faz aumentar o interesse sexual. Fase que vai de 11-12 anos até 17-18 anos.
A pulsão
A partir da formulação das teorias do inconsciente humano, Freud aprofundou as concepções relativas às pulsões. A pulsão é uma espécie de energia inconsciente que busca, por meio de um objeto, um jeito de ser gratificada. Ela alimenta os desejos humanos e os converte em comportamentos. São duas espécies de pulsão: a pulsão de vida (Eros) e a pulsão de morte (Thanatos). A primeira abrange as pulsões sexuais e as de autoconservação, essa pulsão seria representada pelas ligações amorosas que temos com a vida, com nós mesmos e com o outro. Já a pulsão de morte tende à autodestruição e, se dirigida para fora, pode se manifestar como pulsão agressiva ou destrutiva.



Id, Ego e Superego
Em uma remodelagem da teoria do aparelho psíquico, feita entre 1920 e 1923, Freud introduz os conceitos de id, ego e superego para se referir aos sistemas de personalidade.
Id é uma espécie de reservatório de energia psíquica onde se localizam as pulsões de vida e de morte, já mencionadas posteriormente. Todas as teorias do inconsciente são atribuídas ao id a partir desse momento. O id contém a nossa energia psíquica básica e ele é regido pelo princípio do prazer.
O ego serve como um mediador entre o id e o superego. É um ponto de equilíbrio entre as exigências do id, as exigências da realidade e as ordens do superego. É regido pelo princípio da realidade e procura satisfazer os interesses das pessoas. As funções básicas do ego são: percepção, memória, sentimentos, pensamentos.
O superego surge a partir da internalização das proibições, dos limites e da autoridade. O superego representa a moralidade, refere-se a exigências sociais e culturais. Ele tenta inibir uma completa satisfação do id.



Mecanismos de defesa
Para evitar o desprazer de se deparar com uma percepção de algo muito constrangedor, doloroso, ruim o ser humano cria o que chamados de mecanismos de defesa, usados para “deformar” ou suprimir a realidade. Para Freud, defesa é a operação pela qual o ego exclui da consciência os conteúdos indesejáveis para proteger o aparelho psíquico. Alguns desses mecanismos são:
Recalque: Supressão de uma parte da realidade. O indivíduo “não vê”, “não ouve” o que ocorre ao seu redor.
Formação reativa: o ego procura afastar o desejo que vai em determinada direção, e para isso o indivíduo cria uma atitude oposta a esse desejo.
Regressão: o indivíduo retorna a etapas inferiores de seu desenvolvimento.
Projeção: é a confluência de distorções do mundo externo e interno.
Racionalização: criação uma argumentação convincente e aceitável, que justifique os estados “deformados” da realidade.






Aplicação e contribuições sociais da Psicanálise
A principal característica do trabalho psicanalítico é a decifração do inconsciente e a junção dos seus conteúdos no consciente. A finalidade desse trabalho investigativo é o autoconhecimento em que o indivíduo aprenda a lidar com o sofrimento, criar mecanismos de superação das dificuldades e dos conflitos para que ele possa agir de maneira mais autônoma.
A Psicanálise ainda é bastante estereotipada em nosso cotidiano. Muitas pessoas associam a Psicanálise com o divã, com um trabalho de consultório excessivamente longo e cansativo feito por indivíduos de elevado poder aquisitivo. Mas a Psicanálise é de extrema importância e durante várias décadas é possível constatar sua contribuição, sobretudo nas áreas da saúde mental. Atualmente, os psicanalistas estão estudando a possibilidade de estender o alcance social da prática clínica da Psicanálise, visando torna-la mais acessível a diversos setores da sociedade. Também estão engajados em pesquisas que possam ser úteis na compreensão de fenômenos sociais graves, como o aumento do envolvimento do adolescente com a criminalidade, a anorexia, a sexualização da infância. 





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